[TREINAMENTO] Arena a Longa Distância

Logo após treinar combate com espada, o primordial saiu da Arena de Combate a caminho do refeitório. Estava faminto e precisava alimentar-se bem, para recobrar as energias e a força. Não demorou muito a caminhada, exceto pelos incômodos olhares que perfuravam suas costas.

Sentou-se na mesa e, rapidamente, foi servido. Asinha de frango frita com uma porção de batata-frita e coca-cola. Foi colocada uma mesa só para si, agora. Não mais sentava-se junto dos escassos filhos de Hades, como estava no outro dia.

Alimentou-se e ali ficou por alguns momentos, até cansar-se e resolver treinar mais um pouco. Seria divertido fazer algo mais além de treinar, no entanto... Bem, não tinha com quem fazer nada. Nem mesmo treinar.

Mas antes treinar sozinho, do que ficar deitado o dia todo no chalé. Incrivelmente, seu corpo o exigia treinamento. Exigia exercício. Exigia movimento. E, não conseguindo conter essa vontade de se mexer, Alexus voltou a rumar à Arena, dessa vez para uma a longa distância.

Tinha planos de treinar arremesso de adagas. A Sanctorum jazia embainhada em sua cintura, enquanto ele se aproximava da mesa do arsenal para escolher uma entre as adagas. Optou pela que parecia ter o fio mais afiado. Testou-a, e viu-a perfurar a mesa metálica com facilidade. Sacou cinco adagas idênticas e logo procurou um alvo.

Cinco alvos móveis, em formatos humanos, a cerca de dez metros de distância, todos se mexendo de um lado para o outro, buscando desconcentrar e confundir o atirador. Alexus observou-os por cinco minutos antes de atirar a primeira adaga. A primeira adaga acertou o alvo na coxa esquerda, quase errando.

Atirou novamente, agora no segundo alvo, e dessa vez acertou o braço direito, quase fazendo a adaga ir contra o terceiro alvo que passava atrás do segundo. Percebendo o padrão dos movimentos e o decorando, sacou novamente a adaga e a atirou contra o terceiro algo. Acertou bem no meio do abdômen. Estava começando a ficar satisfeito.

Contra o quarto alvo, mirou na cabeça. Com o padrão decorado, a adaga voou retilínea até explodir a cabeça, varando-a e atingindo a cabeça do quinto alvo. Repetiu o feito por cinco vezes, até que em todas as tentativas acertou os crânios dos alvos. Breve estaria pronto para treinar com seres reais.

Guardou as adagas cuidadosamente onde deveriam ficar e voltou para a casa, levando consigo a armadura.

Violett acordou cedo naquele dia para participar de uma aula conjunta de arco e flecha. Ela precisava daquelas instruções, mesmo que já tivesse certa familiaridade com a arma pelas caçadas que fazia pelas florestas perto de sua cidade natal, antes de ir para ali. Bem, agora de qualquer forma ela precisava se aprimorar e aprender técnicas novas.

Ao chegar na arena de treino, Violett percebeu que havia um número relativamente pequeno de campistas presentes, o que ela deduziu que, em realidade, havia um número relativamente pequeno de campistas amadores. Leslie, a filha de Apolo, que havia marcado aquele treinamento, chegou pontualmente na hora que havia dado para o início da aula e parou em frente a todos. — Bom dia a todos. Vamos iniciar a aula de arco e flecha para iniciantes... – ela relembrou conceitos básicos da modalidade e então foi até o painel de comandos, ativando um sistema que fez com que os alvos, antes imóveis, começassem a se locomover em velocidade uniforme. — Só porque são iniciantes não quer dizer que as coisas serão fáceis.

Com todos os campistas já posicionados em uma fileira horizontal, Leslie começou a dar instruções sobre a atividade. Violett avaliou o arco que tinha em mãos, o rodeando e ponderando seu peso e tamanho, sentindo o formato curvo da madeira e a corda bem atada nas duas extremidades finais do arco. Segurar a arma corretamente era algo relativamente fácil para ela e as flechas eram uma antiga companheira que ela não se recordava muito bem. Lembrava o tempo de caça nas montanhas com seu pai, em Lyndhurst. Os dedos da mão canhota estavam em torno da estrutura do arco, não com força, mas sim firmes. O cotovelo permanecia reto diante da linha de tiro. Ângulo, impulso e força, era o que Leslie dissera. Parecia muito seu pai. Violett puxou uma flecha da aljava que pendia a suas costas; cada campista tinha uma cor e dela era azul celeste.

Sentia outros campistas movimentando ao lado dela, cochichando e rindo. Aquilo a irritou, mas ela tentou permanecer centrada enquanto segurava a longa e fina haste feita de madeira, se preocupando com o engaste para a fixação na corda do arco, que achava que era a parte mais complicada para ela. Colocou o nock da flecha na corda do arco e, seguindo as instruções que Leslie ia ditando e todos acompanhando, segurou a ponta da flecha entre o dedo indicador e médio.

— Como já disse, tem dez minutos para acertarem todos os alvos – disse Leslie, mexendo no painel de comando e fazendo os alvos começaram a se mexer numa velocidade muito lenta. A instrutora olhou no relógio. — Comecem!

Respirou fundo e deixou a respiração controlada. Segurando o arco fundo e mirando para o alvo, Violett soltou a corda e esperou o resultado. A flecha se desviou do caminho e foi diretamente para o chão. Hmmm... talvez ela estivesse sem prática. Pegou outra flecha, colocando-a na corda e fechando apenas um olho para tentar mirar com mais precisão no centro do alvo. A medida que o alvo se movia, Violett o seguia, até conseguir acompanhar seu ritmo e calcular mais ou menos onde teria que mirar a flecha, prevendo que o alvo estaria lá assim que ela soltasse a corda. Tudo tão bonito e fácil na teoria. Quando Violett soltou a corda, a flecha saiu cortando o ar diretamente para... acima do alvo, bem acima.

Outra flecha. Outra tentativa. Outro erro. E, é claro, outro palavrão.

Concentrou-se em outro alvo e passou a seguir seus movimentos, repetindo aquele processo todo. Soltou a corda e vendo a flecha disparar na direção do alvo e se cravar no círculo preto. A flecha com pena azul celeste finalmente se juntou a diversas outras coloridas. Violett visualizou outro alvo que ainda não havia acertado e tentou atirar a flecha nele. Errado por uma distância tão pequena que dessa vez o xingamento teve que ser mais alto.

— Você está mirando muito reto e assim perde um pouco sua capacidade de distância, tente erguer um pouco o arco – falou Leslie ao passar por ela. Não hesitou em aceitar o conselho dela, erguendo o arco um pouco. Pegou a flecha, a colocando na corda e a segurou, retesando calmamente o cotovelo enquanto puxava a flecha para trás. Prendeu a respiração e focou no alvo. Então soltou. A flecha foi parar no alvo, um pouco mais perto do seu centro do que qualquer outra flecha que já estava ali. Bem, a sua mãe era a deusa da caça, ela só precisava se esforçar um pouco mais e se lembrar de tudo que havia sido lhe ensinado antes... Para seu desconto, oito horas da manhã ainda poderia ser considerado madrugada e seu cérebro ainda estava dormindo.

Violett pegou outra flecha e quando a soltou da corda do arco, esta foi direto para a parte vermelha de outro alvo. Quando já ia abastecer a corda com mais uma flecha, Leslie chamou a atenção de todos, dizendo que o tempo havia acabado. Leslie contou os pontos de cada campista, anunciando o vencedor (que, obviamente, não era Violett, que teria que se contentar com um segundo lugar). Leslie parabenizou aos que conseguiram alguma coisa e pediu para aqueles que tivessem dificuldade para perguntar, e treinar mais.

E mesmo que não havia sido horrível, Violett iria, definitivamente, treinar mais.